A casa cor-de-rosa-choque do Baixo e sua história de sobrevivência.

A casa cor-de-rosa-choque do Baixo e sua história de sobrevivência.

A casa do Nivaldo e família é uma antiga construção do Baixo, testemunha das primeiras ocupações por trabalhadores, sobretudo, das grandes indústrias da região, a partir das primeiras décadas do século passado. Pergunte ali e os descendentes vão erguer a mão: Jafetes! [Fiação, Tecelagem e Estamparia Ipiranga Jafet], Ingleses! [Linhas Corrente] Lorenzetti!

Com a nova tinta que ganhou, o cor-de-rosa-choque, essa casinha simpática ganhou ainda mais simpatia e atrai quem passa ali pelo primeiro quarteirão da 1822.

Seu Nivaldo a recebeu do sogro, que morreu há vinte anos. Precisaria de outras reformas para ganhar inteira vida, haja vista que os beirais de madeira estão carcomidos pela gulodice do tempo. A janela dianteira, um dia de madeira, foi substituída por uma de metal. Seu Nivaldo garante que, por trás do cimento chapiscado da fachada, há blocos cerâmicos originais de um tamanhão assim, ó.

Essa casa um dia foram duas, geminadas, com passagem entre elas. Depois foram divididas em duas, a da direita ficou com outro familiar. E a casa seguinte, à direita de quem vê, também obedeceu ao mesmo projeto construtivo, o art nouveau de formas geométricas básicas (triângulos, retângulos, quadrados, círculos) de que o nosso Ipiranga foi pródigo.

Nessa casa vizinha, entretanto, foi montado um sobrado, uma casa por cima da outra, subtraindo a beleza humilde da origem.

Essas casas do Baixo são resilientes. Há anos são visitadas, nas cheias, pelas águas nem sempre tranquilas do vizinho Tamanduateí. A quantas águas sobreviveram!

Por isso a gente olha para elas com respeito e reverência, como quem antigamente tirava o chapéu diante de um acontecimento grave.

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