Escola estadual Visconde de Itaúna / Rua Silva Bueno
Em três dos maiores colégios públicos da região do Ipiranga, a rotina escolar está sendo alterada sobretudo pelo pânico advindo da disseminação de notícias falsas sobre supostos ataques violentos a alunos e professores. O fenômeno da promoção da desinformação deliberada vem tumultuando o dia a dia da comunidade escolar e de pais, já amedrontada pelos casos recentes de violência extrema.
O problema da desinformação intencional é crítico nas escolas estaduais Visconde de Itaúna e Seminário Nossa Senhora da Glória e na escola municipal de ensino fundamental Campos Salles, no interior do complexo do CEU Heliópolis, conforme apurou o Ipiranga22. O fenômeno deve ser estendido a outras unidades de ensino do Ipiranga, incluindo as particulares.
Estudam cerca de 1.600 alunos do ensino fundamental no Visconde, 1.500 do ensino fundamental no Glória e outros 1.015 também do fundamental no Salles.
Seminário Nossa Senhora da Glória / Rua Moreira de Godói
Segundo a professora readaptada Margarete Contábile, do Campos Salles, o absenteísmo chegou a cerca de 20% nos dias seguintes aos atentados na escola Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de SP, dia 27 de março, quando uma professora morreu após ser esfaqueada por um aluno; e na creche Cantinho Bom Pastor, onde quatro crianças foram mortas no último dia 5.
Isso, muito impulsionado por mais notícias de ataques próximos, mas falsos.
O absenteísmo já caiu e chegou perto do normal, segundo a professora.
Mães choram desesperadas
“Os telefones aqui tocam o dia inteiro com mães chorando por causa de casos que não aconteceram”, relata o agente de organização escolar Ricardo Sloe Urbano, do colégio Glória. “Às vezes os alunos chegam dizendo que atacaram alunos e professores do Visconde de Itaúna.” Ele credita parte da produção das notícias falsas aos próprios estudantes.
No Visconde, o diretor João Cavallaro destaca o trabalho de apoio que o corpo docente vem dando ao aluno para bem enfrentar essa crise: “Concomitantemente ao aumento do rigor dos protocolos de segurança, por exemplo na entrada dos alunos, os professores estão acolhendo e tranquilizando alunos nas salas de aula e abordando o tema conforme vai aparecendo”, descreve o educador.
Educação midiática
“Além de mostrar para o aluno que ele deve ter um olhar crítico a respeito da realidade e dos fatos, pois circulam muitas fakes news, que têm como objetivo tumultuar mais ainda essa realidade. Mostramos para os alunos que eles têm de filtrar a informação que recebem com cautela e verificar qual é a fonte: se é confiável ou não.”
Cavallaro informa que, agora, os protocolos de segurança ganharam rigidez e reforço na entrada e na saída dos alunos e também na recepção da escola. “Aumentamos os cuidados de atendimento ao público no guichê, onde é feita uma triagem bastante rígida para direcionar esse atendimento sem ter a necessidade de adentrar o espaço escolar.”
Antes dos ataques havia no Visconde apenas um colaborador acompanhando o ingresso e a partida dos estudantes, mas agora são três dedicados à tarefa (um funcionário administrativo, uma coordenadora pedagógica, um vice-diretor), além da presença dele próprio. A Ronda Escolar também tem estado presente nesses horários mais vulneráveis.
Rigor no registro de ocorrências
CEU Heliópolis / Estrada das Lágrimas
No Glória, outra alteração de rotina se verifica: agora toda e qualquer ocorrência envolvendo um aluno, por menor que seja, precisa ser registrada na Secretaria Escolar Digital, sistema informatizado que remete os dados para outras esferas, incluindo a de segurança.
Sloe Urbano citou como exemplo o caso hipotético de um aluno que leva uma arma de brinquedo para o colégio, um acontecimento considerado irrelevante antes dos atentados recentes e que não seria comunicado a ninguém, mas agora é obrigatório ser formalizado.
O campo para descrever casos assim já existia no sistema, mas não era usado pela escola.
O agente escolar do Glória também notou a maior presença da polícia nas cercanias da escola.
Contábile, do Campos Salles, também notou a constância da Ronda Escolar nos últimos dias, mas observou que nesta sexta-feira (14) nenhum carro de polícia apareceu por ali.
Medidas do governo para garantir paz
Mudanças nas rotinas das escolas estaduais e municipais no que toca à segurança foram anunciadas na quinta-feira (13).
Entre elas, a adoção do botão de alerta de risco, a presença de segurança desarmado dentro da escola, mais rigor nos acessos à comunidade escolar e atenção redobrada a comportamentos atípicos no interior e nos arredores.
Prometem garantir paz nas escolas. As particulares também estão se balizando nas orientações do poder público.