Gente, e essa fotografia aérea do nosso querido bairro, hein? Que desconcertante!
Foi feita pelo alemão Werner Haberkorn entre 1940 e 1960 (não há uma data precisa, mas é provável que seja dos anos 50) e constitui o acervo do nosso Museu do Ipiranga @museudoipiranga
O espanto se torna maior ainda, quando a gente pega uma foto de abril de 2023, de agora mesmo, do mesmo ângulo da primeira, via Google Earth, para comparar.
Como tanta coisa mudou! Como muita coisa não mudou!
Na época da foto histórica, já estava encarapintado na Colina do Ipiranga o Museu, que foi inaugurado no fim do século 19; já havia o Monumento à Independência, na porção inferior do quadro, que é da década de 20; já havia o Hospital Ipiranga, que é dos anos 50, do lado direito, mais acima; já havia a avenida Nazaré subindo a tela margeando o parque-museu; e também o riacho do Ipiranga, com seu grito sufocado pela avenida que o comprime, na época da foto antiga, a Tereza Cristina, hoje renomeada Ricardo Jafet, embaixo.
E ainda havia uma preciosidade que sumiu demolida, o Instituto Bom Pastor, que abrigou asilo para moças pobres e “arrependidas”, a partir do final do século 19 e ao longo de décadas do 20, do lado esquerdo da foto, atrás da Casa do Grito.
Estava ali explícito também o plano de arruamento da região promovido pelo conde José Vicente de Azevedo (1859-1944), benfeitor da nossa gente, com ruas regulares, quarteirões padronizados no tamanho. E isso, que bom, perdurou até hoje, mostrando o legado do planejamento original do bairro, em sua porção mais central.
Mas o que mais chama a atenção mesmo é a ocupação pela nossa gente. Fomos de um semissubúrbio, repleto de espaços ermos e solidões, para uma região altamente adensada, com arranha-céus se enfileirando do lado esquerdo do quadro, onde é permitida a construção de prédios altos (do lado direito da foto é proibido, para proteção do Museu). Éramos nos anos 50, mais ou menos, 100 mil; somos agora quase 500 mil, segundo o IBGE.
Arborizou mais essa porção de chão, que bom. O Parque da Independência ganhou árvores, as árvores cresceram e de onde saiu o Instituto Bom Pastor uma mata nativa cresceu. É essa área que está sendo incorporada agora ao parque, como ampliação.
Nossas impressões à parte, pedimos a ajuda de quem entende. O arquiteto e urbanista Renato Anelli, formado pela FAU-USP e professor de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, traz outros aspectos sobre a transformação do nosso bairro ao comparar as duas imagens:
“A preservação do conjunto monumental e de sua hierarquia na paisagem é notável. Mesmo com as pressões por verticalização, com poucas exceções, as alturas das edições mais próximas ao parque não comprometem essa percepção, à distância, do eixo-parque entre o Museu do Ipiranga e o Monumento à Independência”
Hospital do Ipiranga, modelo de construção
E chama também a atenção de Anelli a forma de construção, diagonal no terreno, do Hospital do Ipiranga,
“Um dos primeiros prédios verticais, o hospital, se destaca pela implantação diagonal em forma laminar, mantendo o restante da quadra ocupado por edificações de baixa altura. Infelizmente, esse padrão não é mais adotado pelos edifícios construídos posteriormente, que simplesmente verticalizam a partição de lotes pequenos e médios dos quarteirões”
Pessoal, a vida vai se transformando, a cidade, o homem, mas que bom que muita coisa boa fica. Tomara fossem só as melhores!
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