Patinho feio?

Patinho feio?

A Maria de Lurdes acha que a casa dela não é bonita. Pior: que é uma das casas mais feias da 1822. A gente diz para ela que não concorda, que, na verdade, é o oposto: é uma das mais bonitas casas antigas da rua.

OK., OK., por ser antiga de muitas décadas (60, 70, 80, 90 anos?), precisa de uma nova demão de tinta, algum reboco de parede e talvez outras premências que só a Dona Maria de Lurdes, seus gatos e seu cão, os moradores, sabem. Ela está há 30 anos nessa casa, pela qual paga aluguel.

A fachada está pintada de um vermelho hoje já lavado e esmaecido e é constituída de formas geométricas básicas, quadrado, retângulo, triângulo. A veneziana retangular, de madeira, está pintada de marrom. É a simplicidade sublime da forma.

Essa casa térrea, que se alonga para o fundo do terreno, tem dignidade, atmosfera mágica de conto de fadas.

O guardião

Pois o cachorro de pelo escuro, já um tanto idoso, que a guarda ao portão deve ser daqueles temíveis, ferozes que guardam a entrada de um palácio que abriga um tesouro muito ansiado. E os felinos, fugidios, são gatos como daqueles dos contos do Edgar Allan Poe, prenúncios de acontecimentos misteriosos.

Sei que viajo, mas preciso viajar.

Dona Maria de Lurdes guarda muitos segredos no interior dessa casa, uma guardiã. E a gente, muito curiosa, ainda vai desvendá-los.

Sua arquitetura lembra também a de uma casa de vó

Coisas incríveis ali acontecem: o bule apita quando a água ferve, a carne amolece dentro da panela de pressão, a roupa quara sob a luz do claro sol, a porta range ao abri-la.

Sim, é uma casa ipiranguista antiga. Concreta. Pela qual a Dona Maria de Lurdes tomara um dia volte a se afeiçoar, provavelmente no dia em que sobrar algum para a reforma.