O ápice de toda vida cristã

O ápice de toda vida cristã
Por Padre Antônio César Seganfredo*

A celebração de Corpus Christi é muito importante para a Igreja Católica, que a considera “celebração solene” e a coloca entre as principais celebrações anuais.

Além disso, sua importância é particularmente sublinhada no Brasil pelo fato de acontecer durante a semana, isto é, em dia reconhecido pelo Estado brasileiro como “feriado nacional”. O Estado é leigo, mas valoriza as expressões de fé do seu povo. Que bom, nesse sentido, que os cristãos evangélicos têm aderido a esse dia segundo o seu modo de celebrar.

Para além da origem histórica do Corpus Christi, a solenidade conserva na Igreja Católica um significado eminentemente atual, pois a Eucaristia é considerada a fonte e, ao mesmo tempo, o ápice de toda a vida cristã. Vivendo o mandamento de Jesus da partilha do pão e do vinho “em sua memória” – “esse é o meu corpo – esse é o meu sangue” – a comunidade cristã confessa a fé no seu Senhor, e haure forças para testemunhá-lo no cotidiano.

Desde as origens, a Igreja conservou o Corpo de Cristo após o final da missa, com o objetivo de levá-lo aos doentes, confessando assim a fé na sua “presença real” na hóstia consagrada. Daí se desenvolveu, posteriormente, o culto de Adoração Eucarística e a celebração anual, com missa e procissão, de Corpus Christi.

Mais convivência, menos mídia social

O Corpus Christi também é oportunidade para reflexão. A Eucaristia tem duas dimensões fundamentais: a dimensão do SACRIFÍCIO de Jesus, que se doa – por amor – em nosso favor; e a dimensão da REFEIÇÃO, escolhida por ele para que a memória do seu sacrifício fosse celebrada. Em nossas casas o momento da refeição tem sido cada vez mais invadido – “roubado” – pela atenção às redes sociais.

Creio que celebrar Corpus Christi seja uma oportunidade para redescobrir o grande valor da refeição, junto com os(as) aqueles(as) com os quais convivemos, em clima de escuta e atenção mútuos.

Todavia, Corpus Christi não é, para os católicos, uma festa a ser celebrada em família ou com os amigos, para viagens à praia ou piqueniques em parques. É dia santo! Corpus Christi é para ser celebrado com a própria diocese e com a própria paróquia, pois Jesus pede à comunidade, e não à pessoa individualmente, que celebre, em uma refeição eucarística, a memória do seu sacrifício.

Transformar, amar e servir

A transformação que pode acontecer no Corpus Christi é a mesma que vai acontecendo em cada Eucaristia (missa) que celebramos, na medida em que abrimos nosso coração para a ação da graça de Deus.

Essa, sim, nos transforma, mas não em modo mágico nem automático. Outrossim, a graça de Deus pede adesão e resposta.

Ademais, a grande transformação se dá quando compreendemos que celebrar a Eucaristia é aprender a fazer aquilo que o próprio Jesus fez, isto é, amar e servir, ele que não veio para ser servido, mas para servir e entregar a sua vida em nosso favor. (cf. Mc 10,45).

 

*Padre Antônio César Seganfredo é doutor em teologia bíblica e pároco da Paróquia São João Batista do Ipiranga.

 

Leia também “O poder de Deus se faz presença real num pedaço de pão”, por padre Anderson Marçal Moreira, da Paróquia Santa Cândida, no Ipiranga