O poder de Deus se faz presença real num pedaço de pão

O poder de Deus se faz presença real num pedaço de pão
Por Padre Anderson Marçal Moreira*

A festa do Corpo de Deus ou, como é mais conhecida, Corpus Christi, começou no século 13, época em que cresceu muito a adoração ao Santíssimo Sacramento e diminuiu a comunhão sacramental.

Nesse tempo, os cristãos da Europa preferiam comungar com os olhos. Quanto à comunhão sacramental, foi preciso que um Concílio a tornasse obrigatória ao menos uma vez por ano.

Comungar com os olhos quer dizer contemplar a hóstia. É nessa época que se introduz, na missa, a elevação da hóstia logo após a sua consagração e, cem anos mais tarde, a do cálice, que vieram juntar-se àquela que já existia no fim do assim chamado Cânone Romano.

É também então que nascem as exposições simples e solenes da Eucaristia, que se constroem nas igrejas, os tronos para a exposição prolongada, que se instituiu a devoção da Hora Santa, das Quarentas Horas e da adoração perpétua. Os fiéis das cidades onde havia muitas igrejas corriam de uma para a outra para ver a hóstia, momento em que os sinos de cada igreja assinalavam.

O começo da festa: hóstia com sangue

A festa do Corpo de Deus se deu quando padre Pedro de Praga, da Boemia, celebrou uma missa na Cripta de Santa Cristina, em Bolsena, Itália. Ocorreu um milagre eucarístico: das hóstias consagradas começaram a cair gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Dizem que isto ocorreu porque o padre teria duvidado da presença real de Cristo na Eucaristia.

O papa Urbano 4º, que residia em Orvieto, cidade próxima de Bolsena, ordenou ao bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto. Isso foi feito em procissão. Quando o papa encontrou a procissão na entrada de Orvieto, pronunciou diante da relíquia eucarística as palavras Corpus Christi, e daí nasceu a festa do Corpo de Deus.

“Estou no pão e no vinho”

Dito tudo isto, partimos agora para algumas conclusões que nos ajudarão a viver e celebrar a Solenidade do Corpo de Deus.

Será que o povo cristão, crente que na hóstia consagrada e no vinho consagrado está a presença real de Jesus, teria se enganado por tanto tempo? A resposta é apenas uma. Se enganam aqueles que acham que aquilo que se celebra em cada Santa Missa seja um teatro, ou apenas uma recordação daquilo que Jesus celebrou na Santa Ceia.

Ao celebrar a Solenidade do Corpo de Deus, celebramos o poder de Deus de se fazer presença real num pedaço de pão e num pouco de vinho consagrados. Os séculos atestam isso.

Pensemos agora na suposição de que o milagre eucarístico de Bolsena se deu para provar que a falta de fé do padre Pedro serviria para toda a história da Igreja. E podemos dizer, bendita falta de fé, que por ela veio até nós não a prova, mas certeza de que o Corpo de Deus no meio de nós deve ser reverenciado, adorado, comungado e aclamado: Ele está no meio de nós.

Mas também pensemos: quantos padres Pedros estão soltos por aí, dentro e fora da Igreja, e que não adoram Jesus na Eucaristia? Uma coisa eu sei, os séculos provam a existência real de Jesus na Hóstia Santa, e por isso, quem seríamos nós, se nos perdêssemos em teorias que são vencidas apenas por uma coisa: aquilo que é de Deus permanece, e aquilo que é dos homens passa.

 

*Padre Anderson Marçal Moreira é membro da Comunidade Canção Nova e pároco da Paróquia Santa Cândida, no Ipiranga.

 

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