Região do Ipiranga vai continuar sem cemitério

Região do Ipiranga vai continuar sem cemitério

Cemitério da Vila Mariana / Foto: cemiteriosemsaopaulo.com.br

Pessoal, a concessão da administração dos cemitérios da cidade de SP para a iniciativa privada já está vigorando. É a promessa de melhoria de serviços até hoje deficientes e caros. A concessão estabeleceu a divisão dos vinte e dois cemitérios e do crematório municipais em quatro blocos, cada um administrado por uma concessionária diferente, por um período de 25 anos.
E como fica a nossa região nesse movimento novo? A empresa Consolare, que venceu a concorrência para o bloco 1, que inclui o vizinho cemitério da Vila Mariana, não tem a intenção de expandir seus serviços para os nossos lados com a criação do primeiro cemitério ipiranguista da história.
“Atualmente, os esforços de investimento da Consolare estão direcionados aos sete cemitérios sob sua gestão na cidade: Consolação, Quarta Parada, Santana, Tremembé, Vila Formosa I e II e Vila Mariana, sendo este último localizado a apenas aproximadamente 4 km do Ipiranga”, justificou-se, em nota.Cemitério da Vila Mariana / Foto: cemiteriosemsaopaulo.com.br

“Salientamos que, embora não haja investimentos planejados para esta região [do Ipiranga] no momento, a Consolare está atenta às demandas da cidade e poderá considerar novas oportunidades de investimento no futuro.”
A concessionária frisou que possui hoje infraestrutura para atender todos os cidadãos, incluindo os do Ipiranga, por meio da central de óbitos, disponível 24 horas pelo número 0800 0800 190.
Questionamos políticos com base no Ipiranga sobre a ausência de serviço funerário e cemiterial em nossa região, levando em conta a numerosa população, de cerca de 500 mil habitantes, a existência de dois grandes hospitais gerais públicos, o Ipiranga e o Heliópolis, e o fato de que morrem por aqui mais de 3 mil pessoas todos os anos.
Em 2022, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade, da Prefeitura SP, morreram 3.339 pessoas na região, sendo 2.673 em hospital, 521 em casa, 79 em outros estabelecimentos de saúde, 11 em via pública e 55 em outros locais.
O vereador Camilo Cristófaro (Avante) afirmou que a questão de um cemitério ipiranguista nunca foi considerada por aqui: “Não existe projeto nenhum para isso e não existe área [no Ipiranga] para um cemitério. Além disso, hoje os cemitérios [de São Paulo] estão concedidos”.O vereador Aurélio Nomura (PSDB) concorda com seu colega do Avante Camilo Cristofaro (veja postagem anterior) que não há área pública disponível para a criação de cemitério nos moldes tradicionais no Ipiranga, mas lembra de que há hoje outra opção de destino digno para nossos mortos, além do crematório: o cemitério do tipo vertical.
Um cemitério vertical é instalado em edifício, ocupa menos área do que um cemitério horizontal e pode ser ambientalmente mais correto, ao poder controlar com mais rigor o processo de coleta de resíduos da decomposição dos corpos, evitando a contaminação do solo.
O ex-jogador Pelé, morto no ano passado, escolheu ser enterrado num cemitério vertical em Santos (SP), o Memorial Necrópole Ecumênica. Um cemitério vertical oferece lóculos, a versão dos túmulos dos cemitérios horizontais.Foto: Memorial Necrópole Ecumênica / Foto: Divulgação

Nomura se comprometeu a pedir à concessionária Consolare, que administra o vizinho cemitério da Vila Mariana e outros seis cemitérios municipais, um estudo de viabilidade para a criação de cemitério vertical e agência funerária no Ipiranga. A solicitação será encaminhada via SP Regula, que fiscaliza os serviços públicos municipais.
Nomura credita o fato de o Ipiranga até hoje não ter cemitério próprio à cultura brasileira em relação à morte: “Todo mundo quer um cemitério, mas nunca perto. Existe preconceito com relação à morte e aos mortos”.
George Hato (MDB), o terceiro vereador ipiranguista da atual legislatura, não vê demanda na região para um cemitério. “Acredito que os cemitérios dos bairros vizinhos, como os da Vila Mariana, Vila Alpina e Quarta Parada, supram as necessidades do Ipiranga”, afirmou. “Recentemente tivemos diversas audiências públicas para a revisão do Plano Diretor Estratégico e não recebemos nenhuma solicitação dos moradores da região nesse sentido.”
“Claro que, se for uma necessidade da população, é nosso dever trabalhar por isso. A administração pública tem que estar alinhada com os anseios dos moradores.”
Gente, como se diz, a morte é a única certeza, e a gente quer a chance de ser enterrada na terra que aprendeu a amar e onde foi amada. A gente quer ficar no Ipiranga por toda a Eternidade e não ir para uma terra alienígena.