Faz um ano que nos vimos pela primeira vez: era 14 de junho, véspera do aniversário dela, na esquina das ruas General Lecor e Silva Bueno, junto da amurada do colégio estadual Visconde de Itaúna, onde estudou até o quarto ano primário.
Voltamos a nos encontrar por acaso um par de vezes, ao longo dos dias que se seguiram, e um dia, que surpresa boa!, foi nos visitar.
Nesta segunda-feira (15), em que completa 87 anos, parabéns!, o acaso novamente nos colocou frente a frente, querida Dona Alzira Inácia.
“Todo ano, no dia do meu aniversário, venho aqui pagar meu dízimo”, explica, de máscara e gorro de lã, junto da nave do Santuário Nossa Senhora Aparecida do Ipiranga. Conduz uma rosa na mão. A igreja, frisa, enfrenta dificuldade devido à pandemia: não teve Semana Santa (quer dizer, apenas missa televisiva) e agora nem quermesse de festa junina, com que sempre arrecada recursos para se manter. O dinheiro que fiéis como Dona Alzira ofertam é, no momento, decisivo.
Tão pequenina, tão magra, vontade de abraçar: Dona Alzira reclama de dores que a vida longeva nos inflige, artrose, artrite, bursite e outras oses e ites. Mas está viva, graças a… “Deixo tudo na mão de Deus. Ele sabe.”
O jeito mineiro-musical de falar, como natural de Alto Rio Doce, é gostoso de ouvir. “Espero que essa ‘doençada’ logo vá embora e ‘tudo’ mundo possa voltar a trabalhar.” Dona Alzira não casou, não teve filhos, mas uma “sobrinhada” tem demais da conta.
Vai passar seu aniversário na casa que a duras penas conseguiu comprar, na rua Almirante Lobo. Foi o maior sonho realizado de sua vida simples. Não passará sozinha, mas “em Deus”.
Em certas datas, costuma comprar massa de pastel e carne ou queijo para o recheio. Dessa feita já estão comprados, agora é só rechear, fechar e fritar. Ela sorri.
Dona Alzira empregou seus melhores talentos a cuidar do asseio da casa de famílias onde trabalhou e até morou. Gostou do que fez, se sentiu querida e acolhida, não represa más águas no leito do seu coração geral tranquilo.
Dona Alzira sempre quer bem, bem-me-quer, bem-me-quer. Uma nossa senhorinha que alumbra e protege nosso caminho.