Ela é a Beri. Filha de imigrante espanhol de Madri e de mãe de família mineira.
Tão miudinha, tão magrinha, o Tempo lhe pressionando a espinha, tudo aparentemente tão frágil, que assombra vê-la descendo da feira em tão alta velocidade puxando seu carrinho.
É garota nova, sorri, aos 87 anos, apertando os olhinhos azuis clarinhos tão pequeninos.
O marido a deixou viúva há mais de 20.
Uma vida de trabalho, a da Beri: na montagem de peças automotivas da indústria Norfol, que ficava aqui na nossa região.
Nas mãos e braços da Beri correm veias muito grossas em alto-relevo. Emociona ter suas mãos entre as nossas, pois Beri é uma entidade, o Ipiranga Antigo que se alevanta.
Dizer olhando bem nos olhos azuizinhos dela muito obrigado e parabéns por ter chegado até aqui. É um privilégio estar em sua presença.
“Mas o senhor me dê licença, que já estou atrasada para preparar o almoço.”
Então o Ipiranga Antigo atravessa a rua Salvador Simões e vai cuidar da vida, que é sempre urgente.