Um encontro com um fusca, os tempos e paixões

Um encontro com um fusca, os tempos e paixões

Meu coração balança e estremece de alegria diante de um Fusca, como essa belezura da Gama Lobo. Sintetiza uma das coisas de que mais gosto no Ipiranga, motor de paixões confessáveis, públicas!: estar no presente e no passado às vezes ao mesmo tempo, às vezes um tempo depois do outro.

Coisa maluca, esse Ipiranga: a gente, que se sentia meio decaída e ultrapassada, está sempre “up to date”, no “dernier cri”, no Ipiranga.

Eu, que guiava já muito envergonhado meu Corsa 96-97 pelas ruas para além da nossa Mesopotâmia (sim, vivemos entre rios, salve Ipiranga, salve Tamanduateí), aqui no Ipiranga me sinto ao volante de um bólido (quase) 0km.

É que aqui do meu lado ronronam comigo outros possantes de todos os tempos, até dos futuros, um Maverick tremendão, uma frota de Fuscas tunados, um Corcel de bigodes, uma resma de Kombis reluzentes aptas a descer pelas ruas da estrada de Santos, até um Vemag, orgulho e glória do Ipiranga Antigo.

O Ipiranga é um lugar mesmo compreensivo: aceita todo tipo de gente (ainda!).

O.k., O.k., tem os resquícios de um adhemarismo prestes a despertar de um tempo jurássico feito fera, de um janismo fi-lo porque qui-lo, de um malufismo rouba mas [pouco] faz, de o meu nome é Enéas e outras manifestações bem atuais de direitos humanos só para humanos direitos. Melhor não falar de política com nossa gente!

Mas até a política é de passado até tocante no Ipiranga, de repente a gente acha que vai aparecer Dona Leonor Mendes de Barros, a mulher do Adhemarzão, novamente à missa de Nossa Senhora Aparecida lá do Baixo. E o Pitta (reencarnado) e o Maluf outra vez junto das colunas nada gregas do Fura-Fila, lá nas Juntas Provisórias! Que coisa linda, de tão pavorosa.

Meu Deus, meu coração vai explodir na próxima esquina, quando uma porta se abre e dela desponta uma senhora nonagenária! Vou desmaiar, me ajuda!, essa parede esboroada se descasca e entremostra os tijolos vermelhos antigos, como se fosse ontem…

Deliro, decerto. Mas meu delírio louco demente é o que me faz querer ficar vivo no Ipiranga, a cada suspiro, a cada surpresa, a cada bem súbito numa esquina em que se encontram duas ruas: a do Passado e a do Presente. Em frente, a do Futuro!