O catador-artista de 2 bilhões de dólares

O catador-artista de 2 bilhões de dólares

Além de catador, Eduardo Ferreira Dias Caldelas é também artista. “O lixo de uns é o luxo de outros”, apresenta sua filosofia à gente ipiranguista, aprendida no filme clássico de Jackie Chan “O terno de 2 bilhões de dólares”.

Montada na calçada recostada ao poste de energia e junto do meio-fio, a sua instalação chama a atenção de quem passa pela avenida Teresa Cristina, quando ela cruza com a rua Tabor. Toda constituída com o que coletou do lixo do Ipiranga.

“O lixo de uns é o luxo de outros”
catador Eduardo Ferreira Dias Caldelas

Metade de um Papai Noel, escorredor de arroz qual chapéu, hastes de ferro revestidas de plástico translúcido como pernas, uma raquete de pingue-pongue sobre a mão direita, uma rede de dormir qual trenó e uma série de detalhes que pedem exame atento.

Foi criada de um dia para o outro e Eduardo não exige da obra propriedade intelectual, nem paga nem permanência. “Está aí para quem quiser pegar.”

“A minha intenção é limpar a cidade. Tudo aqui tem um propósito. Isso tudo é matéria-prima, mas o governo não vê isso. Isso não deveria acontecer”, lamenta, na bronca.

Natural de Guarulhos (Grande São Paulo), onde veio à luz às 6 horas da manhã do dia 23 de julho de 1982, no hospital Stella Maris, Eduardo caiu no mundão como catador em 1997 por causa de uma briga de família na hora de partilhar bens.

Nunca mais parou. Sempre em movimento, Eduardo fez clientela no Ipiranga, em Pinheiros, em Osasco (Grande SP), em Guarulhos e na Riviera de São Lourenço, em Bertioga (litoral sul de SP).

O sobrenome Caldelas já lhe disseram ser de origem búlgara, via parada em Portugal. Tem um filho com 18 anos, o Kevin, que vive em Indaiatuba, na região de Campinas (SP).

Camisa do nosso Corinthians no peito, boné com aba para trás, o catador-artista Eduardo comprova, mais uma vez, a capacidade de o ser humano criar coisas belas, seja ele quem for, não importa seu estado ou condição, nem o material disponível.

Assim, de forma organizada, inspirada, intuída, criativa, inteligente e consciente, Eduardo compartilha com a gente a sua visão de mundo, que vale muito mais do que 2 bilhões de dólares, porque, colocada em prática, garante a continuidade da nossa própria vida.