Ele é uma espécie de prefácio do livro da feira de quinta-feira, na Lino Coutinho:
“O homem das panelas já chegou”, avisa, quando observa a gente chegar com cacarecos que a gente insiste em consertar;
“Agora é só encher as sacolas, não é?”, antecipa, quando nota a gente se aproximar de sacolas de feira, para o transporte e acondicionamento das hortaliças.
Tem um jeito ligeiramente cômico, o sorriso fácil, arribado sobre a caixa de feira feita banco, na entrada pela Almirante Lobo. Ou caminhando pela lateral do seu breve escritório, reservando vaga para motorista.
João é o seu nome. Ele mora na região de Sapopemba, na zona leste, com um irmão, e trabalha de feira em feira do Ipiranga, sua jornada começa na terça, na Vila Monumento, e vai até domingo, na Vila São José.
“Depois dos 50 anos, fica mais difícil arrumar emprego”, sente, aos 57 anos. Soma-se à idade a dificuldade motora, problema grave de coluna, que o obriga a caminhar lentamente, inclinando-se para trás.
A força do hábito vai gerando proximidade. E a gente vai se convertendo em referência para os outros, e os outros para a gente. Uma irmandade ainda que fugaz vai sendo construída. E uma vontade de auxiliar e ser auxiliado se alimenta. E, na feira, alimentar e ser alimentado não é uma mera metáfora.
Janjão vai me ajudando pela primeira vez com as sacolas pesadas, eu que pedi sua ajuda. E foi só aí que notei seu problema motor tão notável, quando emparelhou ao meu lado.
É impossível fazer tudo sozinho.
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