Mimi, a guardiã dos vinhos

Mimi, a guardiã dos vinhos

A Casa do Bom Vinho, na rua Silva Bueno, tem um guardião à sua porta.

Mas de um tipo muito diferente, nada de cão de três cabeças à Cérbero, nada da combinação meio águia meio leão à grifo, para espantar os impertinentes e desavisados que arriscam a travessia.

É, sim, um ser que ronrona e lhe dá as boas-vindas com uma roçadinha de corpo entre as pernas e uma miadinha.

Mimi, essa gatinha tão charmosa e gentil, olhinhos azuis do céu, chegou à Casa do Bom Vinho há dez anos, resgatada das ruas pela família que dirige o negócio.

De Osvaldo para Osvaldo já se vão 94 anos de atividades do estabelecimento, desde 1929. O balcão de madeira já um pouco gasta é testemunha tátil de tudo que ali se viveu e comerciou e nele a gente toca com devoção. Ave, balcão cheio de graça!

O território de Mimi é a sua casa, ao lado e ao fundo da loja; o limiar de entrada do comércio familiar (ela nunca se arrisca na barafunda temerária da Silva); e a loja vizinha de equipamentos de cozinha, onde gosta de visitar a Cida e dar uma passeada no quintal que tem lá no fundo, onde há um matinho.

Mimi decerto não é apreciadora de bons vinhos, mas de bons leites.

E sabe fazer, com a espontaneidade felina fácil que Deus lhe deu, com que a gente se sinta bem, e de repente sinta a suspensão da sofreguidão da vida, dos rugidos dos autos e dos autocarros e outra Silva Bueno volte à vida, então.

Paralelepípedos, “bonds”, cortesias de chapéus, felinos.

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