Uma viagem no tempo nas ruas Southey e Vieira de Almeida

Uma viagem no tempo nas ruas Southey e Vieira de Almeida

Ruas Southey e Vieira de Almeida. Encantos, recantos mil. Um pedaço de chão de um outro tempo, de um outro chão. Havia até calhambeque com a inscrição Força Pública. Mas ali mesmo o maior encanto são as construções, as casas remanescentes de um passado ainda presente.

Muros baixinhos, pontilhados de cercas de ferro com arabescos. Pastilhas de vidro multicoloridas recobrindo superfícies. Cacos de cerâmica vermelha forjando pisos. Arcos ogivais e colunas clássicas suportando sonhos. Jardins de roseiras em flor.

Me pergunto, ao vê-las assim tão confiadas e inocentes, tão espontâneas, tão abertas ao mundo, se seria capaz de morar em uma delas, essas raridades e preciosidades.

Temeria pela segurança? Pela vida? Por mim e por você? Dormiria em paz? Seria assim capaz da inocência que já não tenho?

Entretanto, busco por uma placa de “Aluga-se” fixada em algum ponto da fachada ou do terreno e me cobro uma resposta sobre o que quero ainda nessa vida, que a cada dia se encurta.

Viaje no tempo através das imagens do Google Street

Uma casa térrea, com quintal ao lado, ao fundo, jardim à frente, de peito aberto para a vida, doguinhos saltitando livres, um sonho.

Mas ainda será tempo disso, de viver de peito escancarado como o janelão veneziano dessa casa da Southey?

Como poder preservar um modo de vida, de habitação, à sombra de um mundo torto? Há ainda a possibilidade de abertura consequente? Não dá para ignorar um contexto, um resultado, uma história. Algo de ruim aconteceu.

Difícil também é perceber que me sinto cada vez mais alheio. Estranhamentos. Talvez seja a idade que avança, talvez seja apenas certa má vontade. Talvez seja desamor e falta de empatia. Talvez. Triste é notar também o aumento do tom, da agressividade gratuita, da deselegância, da deseducação. Opressão.

Morar (cuidar) numa dessas casas antigas desse pedaço inquieto de chão talvez seja só vaidade, mas talvez possa ser algo mais: um esforço urgente e concreto de nos lembrar de que pode ser diferente, de que, sim!, já foi diferente.

Viaje no tempo através das imagens do Google Street

Não podemos nos encarar o tempo todo como inimigos, como ameaças. Isso não é (con)viver.

Já foi assim, é possível novamente ser assim, ainda que diferente.

Essas casas me inspiram respeito e uma funda preocupação.

 

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