Uma esquina que transporta para um passado nostálgico e acolhedor

Uma esquina que transporta para um passado nostálgico e acolhedor

Toda vez que por ali passo, sempre apressado, paro. É uma atração vital irresistível.

Embora um tanto abandonada, guarda uma aura de dignidade essa esquina, dessa rua. Não sei quem foram os homenageados das placas, Alberto Nepomuceno e Olival Costa, nem os habitantes antigos daquele pedaço antigo de chão.

Mas é possível ver outra vez ali, sem nenhum esforço, as garrafas de leite à soleira daquela porta que leiteiro deixou, o cestinho de pão do padeiro. Isso, logo no primeiro brilho da alva ou nem isso, ouço agora o auto do leiteiro partir. Sim, é noite ainda!

Pela fresta da janela de cima, de roupa de dormir, uma senhora observa o movimento sutil entanto rumoroso e logo volta para dormir.

Viajo no tempo. Que viagem boa. Até os cachorros dormem de madrugada.

É que há algo mágico que ali atrai e chama. Não sei explicar, só sentir. É uma dignidade simples e humilde, mas altiva e grande, como a altura desse sobrado, pra muito mais de metro.

As casas antigas dessa esquina são o engenho humano sem afetação: dois, três degraus junto da porta da entrada, duas janelas ao alto. E a pátina da passagem do Tempo grudada na superfície, a parede descascada entremostrando como decote severo os tijolos vermelhos.

Dobrando a esquina à esquerda, a Nepomuceno expõe sua família. Casas térreas com quintais amplos, vermelhos da cerâmica quebrada ao estilo de um tempo, jardins acenando pra gente da entrada, e, que pena, muros ou grades imiscuídos aqui e ali prejudicando nossa visagem (foi-se o tempo da Inocência, chegou o tempo do Medo).

Essa terra é como um portal do Tempo: permite que a gente visualize o que foi outra vez, dentro do tempo presente. De repente a gente entra num quadro de época, tem vontade de usar gomex no cabelo, suspensórios, camisa regata clara por baixo da camisa de botão.

A gente é de repente o nosso avô, o nosso tataravô, gente que a gente nunca viu mas sabe que está dentro de nós, familiar. É uma loucura, eu sei, mas é possível voltar no tempo, voltar-se no seu tempo aqui nessa esquina..

E decerto isso não acontece só aqui no Ipiranga, esse bairro que é daqui e ainda de lá não sei por quanto, mas ainda. Isso é raro, isso é extraordinário!

 

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